2019

Acrílico sobre fotografia

Fotografia: Eugenio De Conti

Texto: Lucila Vilela

Era setembro de 2019, quando a artista/curadora Luciana Knabben me convidou para participar de uma exposição cujo tema era pintura e paisagem. Um tema clássico e caro à História da Arte. Aceitei, mas com uma condição, não tinha nada para expor (ainda). Precisava pensar.  Então pedi a Luciana para conhecer o espaço e ver se assim surgia alguma ideia. E no caminho fomos conversando sobre o artista alemão Caspar David Friedrich, referência inevitável e direta quando se fala em paisagem e pintura. Luciana me contou de um quadro de nuvens, pintado por Friedrich, que ela viu em uma exposição em Viena. E que se pudesse teria essa obra em sua exposição. Não seja por isso, disse a ela, poderíamos resolver essa questão com uma cópia desse quadro, feita por mim. Então ela teria um Friedrich, um Fake Friedrich, na exposição. Mas nada é tão simples assim. Copiar um Friedrich tornou-se mais que um desafio, tornou-se um problema aparentemente insolúvel. Qual técnica utilizar? Quais eram as cores originais? Acrílico não dá a textura, óleo não seca a tempo. Essas questões todas estavam povoando minha cabeça quando recebi uma foto de um amigo, Josimar Ferreira, enviada por whatsapp. Friedrich! Exclamei. O caminhante sobre o mar de névoa era agora o caminhante sobre o mar da praia Mole. A pintura se encontrava na fotografia. A apropriação dessa foto resolveria meu problema. Mas o lampejo de alegria logo cessou quando percebi que me enfrentava com outro problema: a resolução da foto. A foto, tirada por seu amigo e vizinho Eugenio De Conti, não tinha resolução suficiente para uma boa impressão. Mas não desisti. Pensei então em fazer como a Sherrie Levine que nos anos 1970 tirou uma fotografia da fotografia e se apropriou dela. Se eu imprimisse a foto em tamanho pequeno e tirasse outra foto da foto em alta resolução talvez funcionasse. Mas para isso precisava de um profissional da fotografia ou, melhor ainda, lembrei de uma artista que trabalha justamente com isso: Lela Martorano era a pessoa certa para me ajudar com esse problema. Ela me recomendou um especialista em resolver encrencas de impressão. De fato, problema solucionado. Mágica das máquinas. Faltava agora a assinatura. Para mim era importante trabalhar com a cópia da assinatura para assumir a referência e realizar uma falsa falsificação. Mas como estou longe de ter acesso aos quadros originais de Friedrich, tive que contentar-me com uma pesquisa feita pela internet. Para uma cópia perfeita usei a técnica de projeção, mas a imagem estava difusa devido à baixa resolução. Fiz um traço improvisado com lápis para lançar o desenho da assinatura, mas os detalhes teriam que ser feitos a olho. Assim com um pincel fino e muita precisão terminei minha pintura de maneira artesanal, assinada Caspar David Friedrich.